A Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, da Fiocruz, acredita que, plantando ideais, podemos formar pessoas conscientes e críticas, capazes de atuar diretamente nas questões mais urgentes de saúde e meio ambiente e trabalhar para a construção de um futuro mais justo e digno para todos e todas. É através da educação – de uma educação que preze a autonomia, a solidariedade e a justiça social – que poderemos incentivar nossos jovens a “colocar a mão na massa”, debater e atuar em soluções para os problemas de saúde e meio ambiente que atravessam sua vida e a vida de sua comunidade.
Vivemos, hoje, uma crise climática, ecológica e de saúde. As projeções para as próximas décadas apresentam um cenário de deterioração da qualidade da vida – humana e não humana – no planeta. Os recursos se tornarão cada vez mais escassos, acentuando as injustiças sociais e possibilitando o surgimento de pandemias globais, como a que vivemos em 2020. Mais do que nunca, nos confrontamos com perspectivas sombrias para o nosso país e até para o nosso planeta. Entretanto, podemos – e devemos! – ainda “virar esse jogo”: isso depende somente de como nos posicionaremos, coletivamente, diante das difíceis escolhas que irão moldar nosso futuro. O momento é agora!
Ela tinha uma maneira especial de cuidar dos outros. Uma cientista humanitária que começou trabalhando na bancada com experimentos sobre a Doença de Chagas, uma doença tradicionalmente transmitida pela picada de um inseto! No entanto, mais recentemente, a transmissão oral da doença de Chagas passou a ser a forma mais importante de contágio no Brasil, representando mais de 80% dos casos, principalmente no estado do Pará. Juliana seguiu as evidências e desenvolveu um modelo experimental da Doença de Chagas oral em camundongos. Além de estabelecer o modelo, identificar os mediadores da forma grave da doença e a via de entrada, ela foi ao Pará.
Foi ao Pará e conheceu a população ribeirinha. Isso bastou para que ela decidisse, como humanista, que algo mais poderia ser feito por aquela população. Quase imediatamente, Juliana identificou a necessidade de capacitação dos microscopistas para o diagnóstico da Doença de Chagas e elaborou o “Manual da Doença de Chagas para microscopistas de nível básico do estado do Pará”. E não parou por aí — organizou também um curso de capacitação para eles.
Alda Lima Falcão foi uma mulher inspiradora em muitos sentidos. Foi muito próxima de Maria Deane, cientista homenageada na 2ª edição do Prêmio Menina Hoje, Cientista Amanhã.
Essa aproximação, iniciou-se quando a cidade natal de Alda, Aracati – CE, sofria com um surto de malária. Enquanto os cientistas combatiam a doença no Serviço de Malária do Nordeste, com o apoio da Fundação Rockefeller, Alda, com apenas 14 anos de idade, aprendia com Maria Deane a dissecar, identificar, fixar e armazenar exemplares do Anopheles gambiae, espécie vetora da doença.
Nascida em 1925, Alda teve uma infância de puro contato com a natureza. A região fica perto do Rio Jaguaribe, que desagua no oceano Atlântico. E foi por ali que aprendeu a nadar, correr pelas matas, andar a cavalo, colher frutas e ter contato com algumas espécies de animais na beira do rio.
Embora tenha se formado em contabilidade, atuou como entomologista, juntamente com seu marido, Alberto Falcão, por décadas. Primeiro pelo Serviço Nacional de Malária em Fortaleza, depois em Belo Horizonte. No entanto, após uma regulamentação federal, os dois não puderam mais trabalhar juntos, esse foi um momento difícil de ser superado, afinal estavam acostumados a colaborar e apoiar um ao outro em seu trabalho.
Contudo, Alda guardava recordações muito positivas de sua vida pessoal e profissional. Seu empenho foi reconhecido por aqueles que tiveram o privilégio de contar com sua presença por perto. Familiares, alunos, pesquisadores e outros profissionais do Brasil e de vários pontos do mundo puderam observar o impacto do seu trabalho científico, principalmente as análises que fez sobre os flebótomos, que são insetos vetores de doenças como a leishmaniose.
Maria Deane Paraense, cientista pioneira e autora de mais de cem produções. Conheça Maria von Paumgartten Deane, primeira mulher a assinar um artigo na revista editada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC)
Ela fez descobertas incríveis! Maria von Paumgartten Deane foi uma lendária protozoologista que registrou diversas descobertas significativas sobre leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas. Foi ela quem descreveu, pela primeira vez, o duplo ciclo de multiplicação do Trypanosoma cruzi (agente causador da doença de Chagas) em gambás. Sua produção científica é extremamente original. Além de uma cientista pioneira, ainda na década de 1930, formou-se médica e viajou por todo o interior do Brasil para investigar doenças que continuam a ser negligenciadas. Enérgica e de personalidade forte, Deane dedicou boa parte de sua vida para estimular a formação de profissionais de saúde. Também esteve envolvida na consolidação de unidades de ensino e pesquisa em várias instituições, como o Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e o Departamento de Parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Carabobo (Venezuela). Na Fiocruz, o Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia) é também uma homenagem às suas incontáveis contribuições.
Bertha Lutz Naturalista, política e defensora dos direitos das mulheres: Bertha Maria Júlia Lutz foi tudo isso e mais
Bertha Maria Júlia Lutz foi considerada – e ainda é, até hoje – uma das cientistas brasileiras mais brilhantes da história. Nascida em São Paulo em 1894, a filha do zoólogo Adolfo Lutz sempre demonstrou amar os animais e as plantas. Estudou ciências naturais na França e, aos 24 anos, decidiu voltar para o Brasil. Foi trabalhar no Museu Nacional: lá, descobriu um interesse particular por anfíbios. Lançou um livro sobre o tema que é usado até hoje como referência. Genial, não é?
Mas não pára por aí. Além de se tornar uma pesquisadora respeitada pelo seu trabalho, Bertha fez ainda mais pelas mulheres: foi uma das pioneiras do movimento feminista brasileiro. Defendeu pautas como os direitos trabalhistas da mulher, a igualdade salarial e o acesso ao voto. Imagina falar sobre isso no século 20, em espaços dominados por homens! Bertha ocupou cargos de altíssimo prestígio como secretária no serviço público federal, foi parlamentar e recebeu honrarias importantes, entre elas, o título de professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Também representou o país em eventos internacionais. Ufa, que trajetória.
A Fiocruz teve a honra de ser um dos lugares pelos quais a cientista passou enquanto trilhava a sua carreira. Já que falava várias línguas, Bertha trabalhou como tradutora no setor de zoologia do Instituto Oswaldo Cruz. Além disso, foi peça-chave na construção do Museu Oswaldo Cruz, criado em 1917.
Por esses e tantos outros motivos, Bertha Lutz foi a escolhida para ser a primeira homenageada do Prêmio Menina Hoje, Cientista Amanhã. Afinal, é inspiração de sobra!